Não é uma tarefa difícil observar a moda dos últimos anos das empresas e gestores públicos no tocante aos compromissos com o meio ambiente. A ausência de práticas sustentáveis é mascarada nos valores e missões dessas corporações e instituições. Alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são facilmente inclusos em projetos e estatutos e pronto! Viram sustentáveis! Com um olhar analítico e crítico, podemos romper e desmascarar várias empresas e pessoas que trajam de condutas “engajadas” para se autopromoverem e fazerem o inverso do que se propõem a fazer.
As instituições e empresas que idolatram as atividades industriais, que até chamam de renováveis e limpas, não pensam duas vezes antes de lançarem suas pesquisas e investimentos para lucrarem em cima de posses e degradações ambientais e culturais dos territórios tradicionais. Os órgãos que deveriam impedir essas intervenções, continuam fazendo ouvido de mercador e liberando licenças para essas empresas “sustentáveis”. Não é de se esperar uma conduta diferente de pessoas que só têm nos usado para conquistar titulações de mestrado, doutorado e nunca retornarem nada benéfico e coletivo às comunidades.
As energias renováveis que tanto embelezam nos longos discursos cheio de tabelas e gráficos nos slides de apresentação, em fóruns e congressos regionais, nacionais e internacionais, seguem silenciando o gritante pedido de socorro das (bio)diversidades. Povos indígenas e quilombolas são empurrados às margens pelas sequelas de um desenvolvimento que nunca foi sustentável. Distintas formas de coexistir, sejam humanas e animais, são aniquiladas em múltiplos ecossistemas.
Semana passada aconteceu em Natal/RN a primeira edição da Conferência Potiguar do Clima. Evento que não nos surpreendeu em nada e mais uma vez nada de novo no front. O que foi possível observar foi a presença majoritária de pessoas brancas que não fazem parte e não vivem as realidades de pessoas que tem o meio ambiente como principal meio de subsistência. Mas que estão em reuniões para acionar outras reuniões em um ciclo vicioso e sem solução, tentativas constantes de nos ludibriar. Porque pessoas de comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas, pescadoras e marisqueiras não estiveram presentes? Povos estes que são cheios de intelectualidades, saberes e que já contribuem significativamente no seu cotidiano para que um colapso ambiental e climático não entre em cena.
O analfabetismo ecológico fomentado pela ineficiência da Lei 9795/99, que dispõe sobre a Educação Ambiental, é um prato cheio para os que se apropriaram de termos para parecerem engajados e preocupados com as questões ecológicas e socioambientais. A inversão de valores é escancarada pela ganância e os valores capitalistas de uma sociedade cada vez mais consumista. Sociedade esta que não está interessada em uma mudança radical de seus hábitos.
Além disso, existe a Convenção nº169 da OIT de 1989 sobre povos indígenas e a participação nossa participação na tomada de decisões sobre seus locais. O governo é obrigado a proteger e erradicar práticas criminosas em territórios tradicionais. Desconsideram e desrespeitam essa convenção e os nossos povos em prol de uma sustentabilidade que só violam direitos humanos. As torres e os tratores seguem destruindo tudo pela frente.
A natureza não é um recurso vendável e enquanto não encararmos isso, nunca estaremos preocupados com o meio ambiente e viveremos em uma iminência constante de um colapso. Seguimos na ilusão que apenas plantando árvores e não utilizando canudos plásticos, somos “sustentáveis”.
Texto por @taangahara
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